Em 2014 essa pergunta me foi feita pelo consultor e amigo Fabio Seo (Seo Consultoria), e confesso que minha primeira reação foi de indignação com a pergunta. “Como ele pode pensar que o setor responsável por quase 30% do PIB Brasileiro não é sólido?”
Já se passaram quase 10 anos dessa pergunta e até hoje continuo sem uma certeza sobre o que responder.
Ao amigo leitor da Cumbre, esse artigo tem o objetivo de propor uma reflexão, um debate, uma troca de ideias e experiências a cerca de dois conceitos que parecem muito similares, mas guardam grandes diferenças. Força e Solidez.
Segundo o dicionário Michaelis (versão On-line) algumas definições de força são as seguintes:
1-Qualidade do que é intenso; intensidade
2-Capacidade de impressionar; expressividade, exuberância, vigor
3- A parte mais numerosa ou mais importante de um todo
Com bastante pragmatismo não dá para negar que o Agro é o setor mais forte da nossa economia.
Segundo a CNA o Agro representa 27% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, o VBP (Valor Bruto da Produção) aumenta de 7% a 9% por ano.
O setor emprega quase 1/3 da população de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Só temos uma balança comercial superavitária por conta do Agro que é responsável por quase 50% das exportações.
A produtividade dentro da porteira cresce a cada ano e estamos entre os 3 maiores produtores e exportadores de todas as commodities agrícolas. (Chamo sua atenção aqui para esse último termo usado, “commodities agrícolas”, isso vai ser importante mais a frente nesse artigo).
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Porém, se olharmos para a definição do dicionário e para esses dados, podemos falar sem nenhum receio que sim, o Agro é forte, o Agro é intenso, o Agro tem capacidade de impressionar, tem expressividade, exuberância e é a parte mais importante de um todo.
Agora, vamos olhar a definição de sólido segundo o mesmo dicionário.
- Que resiste a quaisquer forças externas, como atrito, choque, peso, pressão, etc
- Que não se altera ou afeta com facilidade
- Que não está sujeito a falhar; seguro
Além do mais, tenho certeza de que você leitor está começando a perceber o dilema, principalmente nesse início de 2024 ainda impactado pela situação de mercado que ocorreu em 2023.
Portanto, analisando a essência da atividade de um produtor rural, não dá para negar que é uma atividade de risco. Afinal, um produtor rural pega um dinheiro que nem sempre ele tem, enterra esse dinheiro, fica exposto a “quaisquer forças externas, como atrito, choque, peso, pressão”, cuida do que nasceu daquele dinheiro enterrado por 6 meses, colhe e vende “commodities agrícolas”.
Dos 3 principais fatores que podem propiciar um bom ano para um produtor: Custos, Produtividade e Preço de Venda o produtor só pode controlar um fator e meio.
Sem dúvida pode controlar os custos, pode mitigar, mas não controlar problemas de produtividade e não há o que fazer sobre preços de commodities.
Voltando para a definição do dicionário, o cenário se altera, é afetado com facilidade e está sujeito a falhar.
O que poderíamos fazer para além da força também aumentarmos a solidez do nosso mercado?
Na minha visão, nosso mercado deveria olhar com mais atenção para a capacidade de transformar commodities em produtos com maior valor agregado, minimizando assim a volatilidade inerente aos preços internacionais e reduzindo a vulnerabilidade e a possibilidade de ser afetado com facilidade.
Temos como ótimos exemplos no Agro as Cooperativas AgroIndustriais que já trilham esse caminho e não por coincidência são consideradas empresas super sólidas.
Confira também estes outros artigos que podem lhe ajudar bastante:
Como será o futuro da distribuição de insumos agrícolas
Marketing no agronegócio estratégias para potencializar vendas e resultados
A lógica fica fácil de entender, a partir do momento que uma empresa tem capacidade de transformar milho em um produto acabado, se o preço do milho cai a empresa tem menor custo e maior lucro no produto acabado, se o preço do milho sobe a empresa vende o produto in natura realizando seu lucro.
Pensar em uma Agro mais sólido e não somente em um Agro forte, na minha opinião, deveria ser tarefa para todos nós que estamos nesse mercado. O que você acha?
P.S: Agora uma coisa que ninguém tem dúvida é como o Agro é resiliente… de tempos em tempos nós tomamos um tombo, mas sempre nos levantamos…
Escrito por: Ivan Moreno
Ivan é CEO da Orbia, um dos maiores marketplaces do agronegócio, possui mais de 27 anos de experiência no setor, formação em TI e professor associado da Cumbre.