De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio brasileiro avançou 24,31%, comparado ao ano anterior, e teve participação de 26,6% no PIB do país. Isso representou, em valores monetários, quase R$ 2 trilhões.
A agricultura brasileira no ano de 2022 alimentou 1,5 bilhão de pessoas, ou seja, um em cada 4 pessoas no mundo consumiram nossos alimentos, tudo isso em uma agricultura muito competitiva e acima de tudo sustentável. Nós utilizamos apenas 30,2 % de nosso território para a agropecuária: Sendo 21,2% para as pastagens, 1,2% para florestas plantadas e 7,8% para a agricultura. Temos 66,3% de nosso país ainda protegidos e desse total 25,6% são preservados pelos próprios agricultores, graças a uma legislação ambiental moderna e atuante.
Temos um agricultor cuja idade média fica cada vez mais jovem, e isso facilita a adoção de tecnologias, que traz cada vez mais: maior produtividade, maior preservação ambiental e maior impacto social a todos os envolvidos. Cada vez mais o assunto ESG está na pauta de nosso agronegócio e isso virou uma cartilha seguida por todos nós jogadores do setor.
O grande problema é que não conseguimos informar e nos comunicar com a sociedade sobre como produzimos os alimentos e temos que a todo momento combater mentiras e inverdades sobre como fazemos essa produção. As discussões são feitas de forma insensata e imatura e a maior responsável por isso é a democratização das mídias sociais.
E ao contrário de muitos, que querem calar as mídias sociais para controlar a narrativa eu sou a favor dessa democratização o que dá a capacidade a todos de emitir a sua opinião, como eu estou fazendo aqui nesse artigo.
Mas como melhorar a nossa influência e de que forma podemos romper a nossa “bolha” para atingir a nossa população com fatos e dados. Sempre vejo pessoas da cidade criticando os agricultores pelo uso de agroquímicos e esquecendo de que somos um dos maiores consumidores de remédios sem prescrição médica, vejo as pessoas da cidade criticando como preservamos as nossas florestas e sem cobrar as autoridades sobre os esgotos a céu aberto que correm em nossas cidades, ou seja, as pessoas dos grandes centros dominam a comunicação e é muito mais fácil acusar do que ter uma visão mais crítica sobre si mesmo.
Em recente estudo eu tive a curiosidade de saber quantos seguidores as empresas de agronegócio no Brasil tinham em suas mídias sociais, peguei as maiores empresas de proteção de cultivos, as maiores cooperativas e os maiores distribuidores. Se pegarmos a soma de todos os seguidores desses 3 setores, teremos 11,3 Milhões de pessoas e isso com certeza com pessoas que seguem várias dessas empresas como eu, que sigo a maioria delas, ou seja, esse número é bem menor que o refletido nesses quadros.
Somente para efeito de comparação, existe no Brasil um grande influenciador digital que tem em seu público crianças e adolescentes, uma plataforma com 43 Milhões de seguidores somente no Youtube, ou seja quase 4 vezes o total de pessoas dos principais players do agronegócio, e muitas vezes sem nenhuma autoridade para falar do agronegócio faz vídeos e publicações criticando o nosso setor sem nenhum estudo científico e atira inverdades e falsas acusações. Como exemplo, temos diversas matérias sobre que o Brasil é o maior consumidor de agroquímicos do mundo, sem saber que aqui, ao contrário dos países de clima temperados temos de 2 a 3 safras por ano, ou seja, o combate a pragas, doenças e plantas daninhas é muito mais difícil, ou as falácias sobre o aumento de CO2 pela flatulência de nossos bovinos.
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Por mais que façamos uma agricultura competitiva e sustentável será difícil lutar contra essa narrativa de desinformação e de ataque ao nosso negócio. Não seria difícil para os influenciadores digitais pesquisarem os trabalhos da Embrapa, de universidades como USP/ESALQ, UNESP ou ouvir autoridades como o Dr. Evaristo de Mirando ou Dr. Gustavo Spadotti que possuem imagens, dados e conhecem o agronegócio brasileiro como ninguém no mundo e nos ajudar a divulgar o quanto o nosso agronegócio é pujante, competitivo e o setor mais brilhante de nossa economia, mas desinformar e atacar é muito mais fácil e parece que reverbera mais.
A minha conclusão é que hoje “evangelizamos os que já são evangelizados”, ou seja, falamos sobre como produzimos, como respeitamos a natureza e as regras estabelecidas para quem já conhece o agronegócio. As vezes a comunicação que queremos impor pode soar pesada a quem não pertence ao setor, como a que uma grande rede de televisão fez aqui no Brasil: “Agro é pop. Agro é tech” que eu achei fantástica, por ser do setor, mas pode passar um pouco de prepotência ou de arrogância.
As vezes por maldade ou ideologia as pessoas atacam o nosso agronegócio. Temos um agronegócio produtivo, estamos nos top 10 na maioria dos alimentos consumidos pelo planeta, somente o agricultor preserva 25% do território nacional e onde temos a agricultura, temos os maiores índices de IDH do Brasil (Verde e azul no mapa), e também as menores taxa de desemprego.
Mas o que fazer diante de todas essas adversidades que enfrentamos ao nos comunicarmos com o mercado?
– Aumentar a nossa presença nas mídias sociais e buscar uma comunicação mais simples, mais transparente e menos arrogante.
– Interagir mais com esses influenciadores digitais e buscar o apoio e suporte deles com fatos e dados.
– Maior interação nas escolas mostrando os impactos da nossa agricultura na economia, no ambiente e no aspecto social.
– Maior divulgação e ajuda do setor na distribuição de livros elucidativos como os Nicholas Vital, Marcos Fava, Xico Graziano, que deveriam estar em todas as escolas brasileiras. Os livros são verdadeiras enciclopédias e em linguagem simples para ajudar a entender o nosso agronegócio.
Não podemos esperar alguém ou algum ser “divino” vir e ajudar nisso, precisamos ser os protagonistas em defesa do setor. O agricultor brasileiro é o maior ambientalista do planeta. Quer um exemplo simples sobre isso: pegue o Rio Tiete que é um dos poucos Rios do Brasil que corre no sentido litoral para o interior e veja onde está a poluição dele do inicio até o desague no Rio Grande e compare, veremos o quão grande é a preocupação do homem da cidade e a do homem do campo. Me pergunto as vezes porque nenhuma emissora de televisão abordou isso.
Embora as pessoas tenham ocupado espaços e gastem inúmeras horas dentro das redes sociais, o fluxo de conteúdo irrelevante é muito intenso. Além de correntes e Fake News, somos constantemente bombardeados por anúncios de compra, sugestões e coleta de dados. Em vez de navegar tranquilamente e realmente se conectar e trocar experiências, as redes se tornaram ambientes de convite de curtidas, comentários e likes que realmente não tem significado.
O mundo está cada vez mais ligado em como nossos alimentos são produzidos e nos prováveis impactos causados no meio ambiente e nas comunidades rurais. Assim, os consumidores, estudantes, agricultores, pesquisadores e profissionais da cadeia de produção de alimentos precisam estar sintonizados e bem-informados.
Acredito muito que cada vez mais o nosso papel é o de trazer a melhor informação para a nossa comunidade, através dos mais diversos canais e formatos. As mídias sociais e as novas tecnologias são fortes aliados para esse nosso propósito.
Escrito por: Renato Seraphim
Renato é CMO da UPL no Brasil, possui mais de 26 anos de experiência no agronegócio, tendo atuado em cargos como CEO em empresas do setor, é formado em Agronomia e professor associado da Cumbre.