Primeiramente, ao falar sobre tendências é sempre um desafio para qualquer tipo de negócio. Trata-se de uma mistura de visões, evidências e certezas, permeadas por pitadas de vieses, que nos levam a projetar no futuro o que acreditamos que efetivamente acontecerá. Muitas vezes, essas projeções se concretizam, enquanto outras não passam de meros modismos. Além do mais, ao abordar tendências, acredito que o elemento central reside em examinar os fundamentos e princípios, frequentemente imutáveis. A partir desse ponto, é essencial observar as novidades, tecnologias e inovações, e projetar como esses elementos podem se entrelaçar no futuro, de acordo com a crença e análise.
Porém, ao analisarmos a agricultura brasileira, acredito que produzir mais com rentabilidade e sustentabilidade permanece como uma verdade imutável. Em 1970, essa visão poderia ser considerada uma tendência, e, de fato, se concretizou. O Brasil ascendeu para se tornar o maior exportador mundial de alimentos, implementando por exemplo mecanismos inovadores que permitiram o plantio de 2 a 3 vezes ao ano em 30% de sua área.
Com isso, esse progresso impulsionou a produtividade de maneira exponencial, ao mesmo tempo em que controlava o crescimento da área plantada. Esse sucesso foi resultado da introdução de inovações no campo, como a aceleração da adoção de biotecnologia e germoplasma, a intensificação da mecanização agrícola e a implementação de práticas de manejo sustentáveis, como a rotação de culturas e o plantio direto. Embora essas tendências tenham ficado para trás, a verdade subjacente permanece inalterada: a necessidade de produzir mais com rentabilidade e sustentabilidade.
Agtechs e seu protagonismo
Dito isto, nesse contexto, as AgTechs emergem como protagonistas nas tendências futuras da agricultura. Em todo o mundo, a sociedade aprendeu a aproveitar dados, Internet das Coisas (IoT), sensores e diversas outras tecnologias avançadas para apoiar os consumidores, no nosso caso, produtores, na superação de seus desafios agrícolas. A combinação dessas tecnologias com os elementos fundamentais de produtividade, sustentabilidade e rentabilidade pode promover uma eficiência crescente no setor agrícola.
Atualmente, as AgTechs se dedicam a enfrentar questões críticas ao abordar essas tendências. Aqui estão alguns exemplos de tendências onde as agtechs (sejam startups ou empresas incumbentes) tem direcionado seus investimentos. Todas essas tendências e soluções irão contribuir para que mais uma vez a agricultura brasileira: produza mais com rentabilidade e sustentabilidade.
Agricultura através de dados personalizados
Com isso, a coleta de dados, considerada uma mina de ouro no campo, proporciona aos produtores uma visão detalhada do negócio, auxiliando na compreensão de custos, investimentos, gestão agronômica e operacional. Ignorar o potencial dos dados no setor agrícola é prescindir de oportunidades cruciais para impulsionar a produtividade e o sucesso no campo. Investir em tecnologias que maximizem a coleta de informações é essencial para o progresso e competitividade dos produtores. Os produtores já se dizem digitalizados, como analisamos em pesquisa como “A mente do Agricultor brasileiro” da Mckinsey, mas ainda é tendência quando ao uso de dados para tomada de decisões agronômicas, principalmente. Farmbox, Aegro, Fieldview, Xarvio e Cromai são Agtechs que estão explorando essas oportunidades.
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Commodities com baixa pegada de carbono
Contudo, temos como sociedade que resolver e atuar para que aquecimento global deixe de ser uma crise mundialmente. O Agro tem e terá um papel fundamental nessa jornada uma vez que pela sua lógica (quanto produzir através da biologia das plantas) atua no caminho reverso de um dos principais causadores do aquecimento: sequestra carbono e o enterra no solo.
Através de tecnologias para produzir alimentos através de práticas e intervenções assertivas que ao final terão um rastro digital da emissão de carbono (através de digitalização e calculadoras cientificas) daquele talhão ou lote é uma das grandes tendências que poderá tornar o agro brasileiro um dos grandes contribuidores (provedores) para que outros negócios se tornem Carbono Neutro através de negociação de ativos de carbono. Para o produtor que adotar essas tecnologias e entender dessas dinâmicas estará mais preparado para as oportunidades que essa tendência trará. Alguns exemplos de Agtechs que trazem tecnologias para essa tendência: Pro Carbono Bayer, Regrow, Indigo, AgroTools, Agrotoken, Agrosatelite, entre outras.
Marketplaces
Como dito anteriormente, a crescente tendência de marketplaces no setor agrícola representa uma revolução na forma como os produtores interagem com os serviços e produtos relacionados ao campo. Essas plataformas digitais conectam diretamente agricultores (que está cada vez como uma idade média menor no Brasil) a uma variedade de fornecedores, desde insumos, equipamentos, commodities e serviços.
Ao simplificar o processo de compra e venda, os marketplaces no agro promovem eficiência, transparência e acesso a uma ampla gama de opções. Além disso, com o “fornecimento” de crédito sendo transformado (outra tendência) e um hábito cada vez mais digital o produtor tende a confiar e migrar para esse tipo de solução. Atualmente no Brasil temos exemplos bem consolidados de Agtechs nesse segmento: Orbia, Grão Direto, SeedZ e a recém-chegada FBN são algumas do setor.
Uso racional de insumos
A tendência do uso racional de insumos na agricultura destaca uma maneira mais inteligente e sustentável no manejo dos recursos. Agricultores estão adotando práticas inovadoras que visam otimizar o uso de fertilizantes, defensivos agrícolas biodefensivos, combustível, água, etc, promovendo eficiência, produtividade e reduzindo impactos ambientais. A aplicação de tecnologias como sensores, monitoramento por satélite, análise de dados e modelos de negócios contribui para uma gestão mais precisa e personalizada, permitindo aos produtores maximizarem a produtividade enquanto minimizam desperdícios (incluindo os financeiros).
Essa tendência reflete não apenas a busca por resultados econômicos, mas também o compromisso crescente com a sustentabilidade e a proteção dos recursos naturais, alinhando a agricultura moderna e regenerativa. As tecnologias provenientes da PerfectFlight, Doroth, ESRI, Solinftec, Fieldview, são exemplos de que essa tendência tem muito fundamento.
Conclusão:
Portanto, a agricultura é motivo de orgulho para os brasileiros. Podemos falar pouco e, muitas vezes, reconhecer pouco, mas contra fatos não há argumentos. O Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas, e em grande parte, de maneira altamente sustentável. Com certeza, os produtores, em conexão com o ecossistema de tecnologias e AgTechs, irão aproveitar e navegar nessas tendências para que, em 2040, possamos mais uma vez olhar para trás e projetar os próximos 20 anos.
Escrito por: Abdalah Novaes
Abdalah é Head LATAM de Soluções Digitais da Bayer, possui mais de 15 anos de experiência no setor, em 3 continentes e diversas posições de liderança, formação em Agronomia e professor associado da Cumbre.